Resiliência ao Trauma Liderada pela Comunidade – Cuidando Daqueles que Cuidam dos Cidadãos

15 de Agosto de 2025
PNUD Angola | João Kiasekoka

A justiça não pode ser centrada nas pessoas sem reconhecer a responsabilidade assumida por aqueles que ouvem os cidadãos todos os dias. 

Os funcionários do Gabinete da Provedoria de Justiça e os administradores públicos em toda Angola recebem e processam diariamente as reclamações dos cidadãos. Para muitos funcionários, esses encontros ecoam desafios que eles próprios viveram. Carregar esse peso pode afetar o seu bem-estar e, em última análise, a qualidade da prestação de serviços.

Para responder a esta realidade, o PNUD, em parceria com o Gabinete da Provedoria de Justiça e a ENAPP, integrou a Saúde Mental e o Apoio Psicossocial (MHPSS) através da Formação Comunitária em Resiliência ao Trauma (CRIM ©) no projeto mais amplo de Audiências Virtuais e Acesso dos Cidadãos aos Serviços Públicos. A par da inovação digital, a iniciativa procura garantir que as instituições também sejam empáticas e estejam preparadas para responder às realidades emocionais por trás das queixas dos cidadãos, melhorando a qualidade e o alcance dos serviços de justiça, garantindo que os profissionais da justiça estejam informados sobre o trauma. 

Em junho de 2025, realizou-se em Luanda o primeiro workshop sobre Resiliência ao Trauma Liderada pela Comunidade (CRIM ©). Para muitos participantes, foi a primeira vez que tiveram contacto direto com ferramentas práticas para compreender o stress e o trauma e para aplicar esses conhecimentos na vida profissional. 

É um modelo novo, que estamos a ver pela primeira vez. É uma experiência totalmente nova e valiosa, porque com as técnicas que estamos a aprender, seremos mais capazes de responder às preocupações dos cidadãos. A nossa maior responsabilidade é dar respostas, e esta formação dá-nos ferramentas para corresponder a essas expectativas.
Explicou Paulo Garcia, Director de Recursos Humanos do Gabinete do Provedor de Justiça

A relevância dessa formação é ainda mais evidente no contexto mais amplo de Angola. Tal como muitos países, Angola passou por uma história complexa, marcada por guerras, e enfrenta hoje os desafios da transformação e das crescentes exigências sociais. Os funcionários públicos não são apenas executores de políticas; são também pais, cuidadores e membros activos das suas comunidades. Muitos deles próprios passaram por situações traumáticas, o que reforça a importância de desenvolver capacidades e oferecer apoio adequado.

UNDP Angola | João Kiasekoka

Para Cláudia Costa, que trabalha na Direção de Reclamações, a formação ofereceu técnicas que ajudam tanto a nível pessoal como profissional. "Permite-nos lidar melhor com os nossos próprios traumas, limitações e insuficiências, ao mesmo tempo que nos ajuda a reconhecer o que os próprios cidadãos podem estar a passar", explicou. "Dá-nos ferramentas para o autocontrolo e para promover o bem-estar — para nós próprios e para aqueles a quem servimos."

O impacto também se estendeu para além do Gabinete da Provedoria da Justiça. José Antunes, que trabalha directamente com comunidades mineiras, descreveu a aprendizagem como altamente prática: "Este curso está a revelar-se muito útil. É uma ferramenta que posso aplicar todos os dias no meu trabalho, uma vez que lido constantemente com situações de stress e trauma. Quanto mais pessoas tiverem acesso a estas competências, maior será o benefício, não só para elas próprias, mas também para as suas interações com os outros. Melhora a comunicação, reduz as tensões e contribui para o bem-estar na vida quotidiana."

É por isso que a formação foi concebida para ir mais longe. Agora que o primeiro grupo de funcionários da Provedoria de Justiça e formadores da ENAPP está certificado para transmitir o que aprendeu, garantindo que as competências de resiliência cheguem a mais colegas em todas as províncias, mais funcionários estarão melhor preparados para gerir o stress, comunicar com confiança e servir os cidadãos com dignidade.

A integração de uma resposta do serviço público informada sobre traumas no projeto de justiça digital sinaliza uma mudança mais ampla em direção a um modelo de governação centrado no cidadão. A tecnologia pode ampliar o acesso, mas são as pessoas que dão às instituições o seu rosto humano. Ao investir no bem-estar e na empatia daqueles que servem, Angola está a construir um sistema de justiça que não é apenas mais moderno, mas também mais humano.