Papel das mulheres no campo terá prioridade em nova fase de projeto

17 de December de 2021

Foto: Acervo ISPN/Roberto Kasu

Desde 1994, o ISPN coordena no Brasil o Small Grants Programme – SGP (Programa de Pequenos Projetos em português), implementado pelo PNUD e financiado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF). Hoje, esse programa faz parte da estratégia para a Promoção de Paisagens Produtivas Ecossociais (PPP-ECOS), que agora tem mais cinco anos de apoio às organizações comunitárias no Cerrado e na Caatinga. O diferencial dessa nova fase é a atenção ao envolvimento e empoderamento de mulheres do campo.

“Gênero não é apenas uma adição, mas um componente-chave do tecido estrutural do projeto, do qual depende o sucesso das metas projetadas”, comenta a assessora técnica do ISPN, que também acompanha o PPP-ECOS no Brasil, Livia Carvalho Moura. O seminário virtual de lançamento do projeto, realizado neste mês, sinalizou que uma nova etapa para o apoio a projetos comunitários no Brasil está se iniciando: mais consciente sobre a urgência do debate de gênero e ainda mais conectado com a sabedoria que vem de povos e das comunidades tradicionais, especialmente, das vozes femininas. 

Coordenadora da Casa da Mulher do Nordeste, Graciete Santos destacou, no lançamento da iniciativa, que é fundamental entender o papel das mulheres nesse percurso. Ela lembrou a histórica desigualdade entre homens e mulheres no país e o papel fundamental de iniciativas como o PPP-ECOS na mudança dessa realidade. 

"O enfoque no gênero vai ser fundamental para essa nova etapa do PPP-ECOS. Vemos no dia a dia a importância da mulher para a conservação, para o acesso à água. São elas que precisam se desdobrar para dar conta de casa e lutar por mais autonomia. São elas também quem primeiro se conscientizam sobre a importância da conservação. É preciso pensar nas mulheres", alertou.

Protagonismo feminino

Foi com a Casa da Mulher do Nordeste, no Sertão do Pajeú pernambucano, que o PPP-ECOS pôde apoiar um dos projetos que traduzem a força das mulheres. Entre 2017 e 2018, a organização desenvolveu uma iniciativa com o reuso da água que sobra da lavagem da louça, do banho e outras atividades domésticas para ser usada na agricultura. O projeto garantiu que 44 mulheres tivessem acesso à tecnologia e as capacitou para o repasse da construção do sistema, potencializando esse recurso na Caatinga.

O reuso da água cinza conseguiu aumentar a irrigação nas plantações e garantir mais autonomia para as mulheres. A partir do uso desse recurso, algumas começaram a produzir e comercializar o excedente (saiba mais sobre esse projeto aqui).  Essa nova etapa do PPP-ECOS afirma um compromisso para fortalecer ainda mais o foco na equidade de gênero e no empoderamento das mulheres, com metas que seguem lado a lado ao desenvolvimento sustentável.

Representantes do ISPN, do PNUD e do poder público, além de organizações da sociedade civil parceiras participaram do seminário de lançamento. Representante-residente adjunto do PNUD no Brasil, Carlos Arboleda agradeceu pela parceria do ISPN. “Só posso agradecer pelo trabalho ao longo de 27 anos, implementando pequenas doações que geraram impactos fundamentais para a agenda socioambiental do Brasil”, declarou.

Na ocasião, Marcus Cesar Barreto, da Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais do Ministério da Economia, enfatizou a importância de existir o protagonismo comunitário na construção dos projetos e a relevância na democratização do acesso aos recursos. “Vamos continuar apoiando ações que se desenham de baixo para cima, que venham das comunidades e sejam para as comunidades. Além disso, a visão que temos é que precisamos de projetos menores e mais eficientes, para que se consiga abraçar mais comunidades”, observou.

Coordenadora do Programa Cerrado e Caatinga do ISPN, Isabel Figueiredo salientou que, em toda a trajetória do PPP-ECOS, o objetivo é fortalecer os modos de vida locais e demonstrar a importância e potência dos biomas aliados aos saberes das populações tradicionais. “É um conjunto de ações somado ao compartilhamento do conhecimento que contribui para a conservação de biomas tão invisibilizados como o Cerrado e a Caatinga”.

Ela ressalta ainda o diferencial dos editais PPP-ECOS: "A forma como a gente zela da relação com os beneficiários é muito especial no PPP-ECOS. As comunidades se sentem seguras para fazer, testar, errar e ter um apoio técnico ali. Nessa nova fase, acreditamos que ter um olhar mais voltado para as questões do protagonismo das mulheres fala muito sobre um desenvolvimento cada vez mais estrutural e igualitário”, finaliza Figueiredo.  

Entre 2013 e 2018, o PPP-ECOS conseguiu beneficiar cerca de 16 mil famílias em mais de 100 municípios do Cerrado e da Caatinga por meio de 104 projetos. Esse empenho ainda contribuiu para o manejo sustentável de aproximadamente 950.000 hectares. Onze mil pessoas participaram de processos formativos, e houve em torno de 20 contribuições para o aprimoramento de políticas públicas no campo socioambiental por parte dos projetos. A nova fase do PPP-ECOS surge com a esperança de trazer mais impactos positivos para as realidades desses biomas brasileiros. Conheça outros resultados da última fase do PPP-ECOS/GEF no Brasil aqui.