PNUD apoia meninas no setor aeroespacial e mulheres empreendedoras

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Menina, conheça as ações do PNUD Brasil para promover a participação delas nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática

18 de October de 2023

Participantes da iniciativa Meninas no Espaço, em Natal (RN).

Crédito: Mariana Almeida

Como promover a inclusão de meninas e mulheres de forma efetiva e inovadora em um mundo em constante transformação? Para apoiar o Brasil a responder a esse desafio, o PNUD realiza ações coordenadas para a promoção da educação e da inclusão de meninas e mulheres no empreendedorismo e em áreas como ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática (também conhecido como STEAM – Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematic).

Pesquisas apontam a necessidade de promover a educação e a participação de meninas e mulheres nas carreiras da área. Em um futuro em que cerca de 90% das oportunidades de trabalho precisarão de habilidades nesses setores, é fundamental que elas tenham oportunidades de acesso e permanência na escola e em carreiras predominantemente masculinas. 

O “Gender Gap Report” (2022) evidenciou que a segregação por gênero nas áreas STEAM persiste. Enquanto as taxas de matrícula de mulheres em cursos de Educação, Saúde e Bem-Estar são mais altas, elas seguem sub-representadas em Informação, Tecnologias da Comunicação, Engenharias e Manufatura.

Vieses de gênero na sociedade e no currículo, ausência de metodologias e de ferramentas sensíveis a gênero e mais dificuldade de acesso à educação podem ser listados como alguns dos desafios para a participação de meninas e mulheres em STEAM.  Para superar esses desafios, o PNUD trabalha em cooperação com a Agência Espacial Brasileira (AEB) para desenvolver competências para o setor espacial no Brasil, especialmente para a participação de meninas e mulheres em disciplinas de Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática.

Ampliando perspectivas profissionais

Capacitar meninas, por meio de ações educacionais baseadas em metodologias de aprendizado ativo, elaboração de projetos, solução de problemas e formação de equipes é o objetivo do Projeto Meninas no Espaço, fruto de parceria entre a AEB e o PNUD. Liderado pela professora Mariana Almeida, do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Meninas no Espaço é responsável por aproximar meninas do ensino público do Rio Grande do Norte aos conhecimentos específicos sobre o setor aeroespacial e às áreas de engenharia e programação.

A partir de chamada pública, o projeto selecionou 21 escolas da rede de ensino público do Rio Grande do Norte. Ao todo, 75 meninas assistiram, de março a julho deste ano, a aulas com metodologias ativas de participação, incluindo oficinas e uso de storytelling. Para além de ferramentas sensíveis a gênero, o Meninas no Espaço trouxe aulas de introdução à Astronáutica, linguagens de programação e introdução à física dos foguetes.

“Os resultados do projeto poderiam inspirar políticas públicas, porque a iniciativa ajudou meninas do interior do estado a ter perspectivas, sonhos. Esses pequenos incentivos à educação pública criam um sentimento de capacidade de superar desafios e de atingir outros patamares de conhecimento”, afirma a professora Mariana Almeida.

De fato, o projeto teve impacto positivo na percepção das meninas em relação ao futuro. Esse foi o caso de Anna Larissa de Araújo Santiago, de 17 anos, que cursa o segundo ano do Ensino Médio. Segundo ela, as aulas ampliaram suas perspectivas profissionais, pois permitiram contato com mulheres que já trabalham no setor aeroespacial. 

“Foi meu primeiro contato com o setor aeroespacial e, antes, eu achava que era uma coisa muito difícil. Mas o projeto conseguiu aproximá-lo do meu dia a dia, construímos até mesmo um telescópio com objetos cotidianos”, diz. “As professoras eram mulheres, e isso me inspirou. Agora, pretendo cursar Engenharia Espacial ou Engenharia Eletrônica e aproveitar que o Rio Grande do Norte é um polo espacial.”

Anna Larissa de Araújo Santiago, de 17 anos, que cursa o segundo ano do Ensino Médio.

Crédito: Acervo Pessoal

Michele da Silva Florencio, de 19 anos, também considerou inspiradoras as palestras com mulheres que estão se preparando para se tornar astronautas. “Cada uma delas tinha uma história de vida diferente. Foi bom ouvi-las e perceber que as mulheres são capazes de trabalhar no setor aeroespacial”, declara.

O curso foi encerrado com o projeto de experimentação para o lançamento e avaliação do desempenho de foguetes educativos, sendo liderado pelas estudantes da graduação e pós-graduação da UFRN. Assim, o projeto construiu um ciclo de capacitação em diferentes níveis, atingindo meninas do Ensino Fundamental, Ensino Superior e profissionais da educação, além de desenvolver manuais de ensino sobre o setor espacial para distribuição entre 900 estudantes da Educação Básica.

Ao longo dos meses, o Meninas no Espaço desenvolveu conhecimentos e habilidades específicas relacionadas à Astronáutica, estimulou o pensamento crítico e inovador, promoveu o interesse pelo setor aeroespacial entre as estudantes e fortaleceu o trabalho em equipe. O encontro final do projeto foi realizado no Centro Vocacional Tecnológico Espacial (CVT-Espacial), tendo atividades conduzidas pela AEB sobre lançamento de foguetes, além de oficinas de satélites e rovers (veículos de exploração espacial).

Concretizando oportunidades

Ampliar perspectivas e criar oportunidades são fundamentais para promoção da igualdade de gênero, mas o que fazer para incentivar o desenvolvimento e a permanência de mulheres em áreas historicamente dominadas por homens? Foi considerando esse desafio que o PNUD Brasil se uniu ao Departamento de Estado dos Estados Unidos como parceiro pedagógico na realização do programa Academia para Mulheres Empreendedoras (Academy for Women Entrepreneurs – AWE 3.0). 

Participantes do AWE após a Cerimônia de Premiação

Crédito: Grupo +Unidos

Em sua terceira edição, o AWE capacitou 90 empreendedoras mulheres em 2023. Durante quatro meses, as empreendedoras participaram de encontros com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que abordaram: planejamento estratégico, gestão financeira, marketing e branding. Ao fim do curso, realizou-se uma rodada de conversas e apresentações com Raquel Alves, representante do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércios e Serviços (MDIC), para que as participantes fizessem contribuições ao Elas Empreendem, a estratégia nacional de empreendedorismo feminino. 

Todo o ciclo de formação do AWE se torna especialmente útil diante dos desafios das brasileiras.  A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) apontou que, em 2018, cerca de 9,3 milhões de mulheres estavam à frente de negócios no Brasil e representavam 34% dos “donos de negócio”. A pesquisa também revelou que as mulheres empreendedoras são mais jovens que os homens (43,8 anos contra 45,3 anos). Mostrou ainda que mais de dois terços trabalham na informalidade e ganham 22% a menos que os homens, sendo que um quarto delas trabalha em casa.

O encerramento do AWE contou com uma competição final de pitches (propostas de projetos), na qual três empreendedoras foram premiadas com capital semente. 

Em primeiro lugar ficou o Pretas na Ciência, um negócio de impacto social que desde 2020 incentiva, fomenta e visibiliza mulheres negras nas carreiras de STEAM. De acordo com a cofundadora do projeto, Ana Nascimento, participar no AWE foi a oportunidade perfeita para viabilizar uma estratégia de sustentabilidade para a iniciativa que surgiu a partir de uma inquietação: a baixa representatividade de mulheres negras no ambiente de ensino, pesquisa e carreiras de STEAM.

“Eu e minha sócia conversávamos muito sobre a necessidade de ter outras [mulheres negras] como nós também em cargos de liderança, porque é sobre você se enxergar em lugares que você não se vê. Então como eu vou saber que posso chegar à liderança se eu não me enxergo lá?”, indaga.

As primeiras atividades da iniciativa se realizaram online: mapeamento dos gaps existentes, workshops, videocast e programas de mentoria foram algumas das ações. Com o passar do tempo e resultados apresentados, a procura pela rede do Pretas na Ciência aumentou, e as fundadoras notaram a necessidade de escalar a iniciativa para um negócio.

Com o prêmio recebido, Ana e Lívia desenvolverão uma plataforma específica e implementarão um projeto-piloto a partir da estratégia de negócio desenvolvida no programa.  O objetivo é fazer com que a plataforma seja uma base de dados para prover fomento, treinamento e conectar mulheres negras às oportunidades.

Pretas na Ciência é um negócio de impacto social que visa incentivar, fomentar e visibilizar mulheres negras nas carreiras de STEAM.

Crédito: Grupo +Unidos

Selecionada em segundo lugar, a Studio Kuhn se destaca por ser uma marca de moda sustentável que trabalha a partir do upcycling,ou seja, a desconstrução de peças e materiais para a elaboração de outros produtos, gerando um novo ciclo de vida a esses materiais.

O terceiro lugar foi para o negócio “Uai Português BR”, uma escola de português para estrangeiros, focada na comunicação efetiva para criação de oportunidades. 

Ação coordenada

As ações do Meninas no Espaço e da AWE são exemplos de como podemos investir em meninas e mulheres para a inovação. Entretanto, para transpor barreiras de gênero, é essencial que exista uma abordagem coordenada e coletiva entre governos, empresas, educadores e sociedades para promover transformações sensíveis a gênero na educação e nas políticas do mercado de trabalho.

A participação plena e igualitária das mulheres e meninas na ciência tem se tornando mais essencial do que nunca. Os múltiplos desafios que a comunidade global enfrenta hoje, desde o combate à mudança global do clima até à melhoria da saúde, exigem o reconhecimento do talento, do potencial e da contribuição de todas para um mundo mais sustentável.