Perdendo o chão sob nossos pés

O que precisa ser feito durante a Década da ONU pela Restauração de Ecossistemas

17 de June de 2022

Aproximadamente 1 bilhão de pessoas em todo o mundo vivem em extrema pobreza e são desproporcionalmente afetadas pela degradação da terra, que ameaça seus abrigos, alimentos, água e rendas.

UNDP/Shutterstock

Solos ricos e saudáveis são a base de toda a vida na Terra.

No entanto, até 40% da terra do planeta está degradada, afetando metade da população mundial.

Cerca de 1 bilhão de pessoas nos países em desenvolvimento vivem em extrema pobreza. Dois terços estão em áreas rurais, e suas terras representam suas vidas – eles dependem delas para abrigo, comida e renda. Eles também podem sofrer desproporcionalmente com a degradação da terra nas próximas décadas, a menos que haja uma restauração em larga escala.

Essas pessoas estão em áreas com as mais elevadas taxas de pobreza, fome, desigualdade e poluição.

Especialmente em risco estão as pessoas que vivem em terras áridas –  45% da superfície da Terra –, propensas à desertificação e aos impactos devastadores de choques relacionados ao clima, como doenças, secas, inundações e incêndios florestais.

Cerca de 12 milhões de hectares de terra são perdidos anualmente devido à degradação. Até 2050, estima-se que menos de 10% da superfície terrestre da Terra permanecerá livre doimpacto humano direto.

Todas as regiões do mundo estão passando por degradação da terra, que assume muitas formas – da degradação do solo à perda de florestas, de pastagens e pântanos.

Na União Européia, entre 60% e 70% dos solos estão degradados como resultado direto do manejo insustentável e perderam significativa capacidade de prover funções ecológicas para várias formas de vida.

Cinquenta por cento das terras agrícolas da América Latina estarão degradadas até 2050.

Dois terços das terras da África já estão degradadas, afetando 65% do continente.

Nesse ritmo, 135 milhões de pessoas, incluindo 60 milhões da África Subsaariana, podem ser deslocadas até 2045.                      

A mudança global do clima e a desertificação estão associadas e se alimentam uma da outra – juntas elas criam ecossistemas e biodiversidade menos saudáveis, ao mesmo tempo em que reduzem a produtividade agrícola e pecuária e a capacidade do solo de armazenar carbono.

Essa “parceria” fatal levou ao desaparecimento de muitas civilizações passadas.                                              

Os desafios

Uma transformação exigirá passos ousados.

Todos os anos, o mundo perde US$ 44 trilhões de seu PIB agrícola devido à degradação da terra.

Para que a fome e a insegurança alimentar sejam superadas até 2050, a produtividade agrícola terá que aumentar em 100% nos países em desenvolvimento e 60% nos países desenvolvidos.

Mas o manejo e a restauração sustentáveis da terra são fundamentais para desbloquear e até mesmo gerar até US$ 1,4 trilhão em benefícios econômicos todos os anos. Cada dólar investido em restauração pode dar um retorno de até US$ 30 em benefícios econômicos.

 

O que o PNUD está fazendo

O PNUD e seus parceiros estão trabalhando para um mundo neutro em termos de degradação da terra – o que significa que a terra, tanto em quantidade quanto em qualidade do solo, permanece estável o suficiente ou aumenta para apoiar as funções do ecossistema e melhorar a segurança alimentar.

O que torna isso diferente de abordagens anteriores é a combinação de métodos que preservam e melhoram a qualidade da terra, ao mesmo tempo em que reverte a destruição passada.

O objetivo é equilibrar as perdas previstas nos recursos da terra com medidas que produzam ganhos alternativos, por meio de abordagens como o manejo sustentável e a restauração da terra.

A saúde da terra é uma faceta importante dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, incluindo aqueles relacionados à pobreza, segurança alimentar, água e mudança do clima, e o PNUD classifica a restauração da terra como um “acelerador dos ODS”.

“A degradação da terra e a desertificação empobrecem países, comunidades e pessoas. Restaurar terras degradadas é uma oportunidade de agir tanto em um caminho de desenvolvimento ecológico sustentável quanto de enfrentar a mudança do clima, a perda de biodiversidade e melhorar os meios de subsistência e as economias”, afirma o Secretário-Geral Adjunto da ONU e diretor do Escritório do PNUD para Apoio a Políticas e Programas, Haoliang Xu.  

Desfazendo o dano

A parceria do PNUD com o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) trabalha com agricultores, silvicultores e outros usuários da terra para desfazer os danos da degradação da terra e fornecer às comunidades as ferramentas para reconstruir a saúde do solo e melhorar a segurança alimentar.

O PNUD está trabalhando em países como a Índia para apoiar os agricultores na adoção de agrossilvicultura sustentável, aumentando o tempo entre os ciclos de cultivo, ajudando a restaurar a fertilidade do solo e regenerar a cobertura vegetal.

A Costa Rica tem sido um exemplo inspirador da rapidez com que o sucesso pode ocorrer. Em poucos anos, passou de 21% de cobertura florestal para quase 60%, pelo qual recebeu US$ 54 milhões do Green Climate Fund em 2020 e, em 2021, ganhou o prêmio inaugural Earthshot. O PNUD continua a apoiar a reabilitação de florestas degradadas para facilitar a conectividade entre florestas e áreas protegidas.

As vastas pastagens e campos da Mongólia exigem uma gestão cuidadosa da água, e o PNUD está promovendo novas maneiras de capturar neve derretida e água da chuva para o gado durante a estação seca. O PNUD ajuda a financiar viveiros de árvores e a proteger as nascentes. Também trabalha com produtores de caxemira para permitir que eles entrem no lucrativo mercado de luxo internacional, enquanto restauram e protegem suas terras e gado.

Em Burkina Faso, uma nova iniciativa apoiará as comunidades a adotar práticas de adaptação baseadas em ecossistemas, como reflorestamento, plantio de grama entre os campos para promover a conservação da água, sulcos, contornos ou terraços de margens para reabilitar as margens dos rios e reduzir a erosão do solo em cinco sub-bacias prioritárias da Bacia de Nakanbé.

As ricas terras agrícolas do norte do Cazaquistão foram degradadas por fertilizantes químicos como resultado de sua dependência da monocultura de grãos. O PNUD está trabalhando com agricultores na região de Kostanay para substituir práticas agrícolas com altos insumos químicos por uma agricultura mais agroecológica e regenerativa que inclui o uso de composto orgânico. Eles viram melhorias significativas na saúde do solo, e os rendimentos das colheitas aumentaram 20%, enquanto novos mercados orgânicos se abriram.

 

Redirecionando incentivos

Todos os anos, o mundo gasta US$ 700 bilhões a menos do que o necessário para reverter a perda de biodiversidade. O novo Global Land Outlook apela para que incentivos "perversos" sejam redirecionados para a recuperação. A Iniciativa de Financiamento da Biodiversidade, do PNUD, trabalha com 41 países para apoiar os planos nacionais de financiamento da biodiversidade e redirecionar fundos públicos prejudiciais, como a grande maioria dos subsídios agrícolas.

O PNUD é parceiro fundador da Força-Tarefa de Divulgação Financeira Relacionada à Natureza, lançada em junho de 2021 após investimento- âncora do GEF. É composto por 34 membros, abrangendo instituições financeiras privadas e corporações, trabalhando em uma estrutura de relatórios para atuar em riscos relacionados à natureza.

E o novo Rhino Bond, emitido pelo Banco Mundial com financiamento do GEF, oferece pagamento vinculado à proteção do rinoceronte negro da África do Sul, seriamente ameaçado de extinção.