Pandemia aprofunda vulnerabilidades de jovens da América Latina e Caribe, diz pesquisa

13 de August de 2021

Crédito da foto: Alexandra_Koch/ Pixabay

A crise gerada pela COVID-19 aprofundou as desigualdades e as vulnerabilidades que já afetavam a juventude da América Latina e do Caribe, comprometendo seu futuro e o alcance da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

A conclusão é da “Pesquisa das Nações Unidas sobre a Juventude da América Latina e do Caribe no Contexto da Pandemia de COVID-19”, lançada na quinta-feira (12).

O estudo, coordenado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), foi apresentado no Dia Internacional da Juventude, lembrado em 12 de agosto.

A pesquisa mostrou que pessoas jovens latino-americanas e caribenhas têm relatado aumento da insegurança alimentar, da violência de gênero e das barreiras no acesso ao ensino e ao emprego.

Realizada pelo grupo de trabalho sobre juventude da Plataforma Regional para América Latina e o Caribe, o levantamento foi conduzido entre maio e junho do ano passado e recebeu 7,7 mil respostas de jovens de 39 países da região, incluindo o Brasil.

A insegurança alimentar é um dos temas mais preocupantes. De acordo com a pesquisa, um de cada três jovens percebe escassez de alimentos em sua comunidade. Essa escassez é maior entre pessoas indígenas, pessoas com deficiência e pessoas migrantes e refugiadas.

Os resultados demonstram que 16% das pessoas que responderam à pesquisa também não contam com recursos suficientes para comprar alimentos. E apenas um de cada cinco afirma ter recebido algum tipo de apoio do Estado para manter sua alimentação.

Em relação à violência de gênero, seis de cada dez pessoas jovens consultadas consideram que a violência aumentou durante a pandemia. Essa percepção é especialmente alta entre mulheres, pessoas com outras identidades de gênero e pessoas LGBTI.

As pessoas jovens consultadas também se consideram desprotegidas: apenas um quarto das pessoas que responderam a pesquisa afirma que as mulheres e meninas de suas comunidades contam com meios de pedir ajuda.

A pandemia afetou o acesso a emprego, renda e educação. Cerca de 10% dizem ter tido aulas canceladas e aqueles que permaneceram em aulas online afirmam enfrentar problemas de acesso à Internet.

Paralelamente, as ocupações domésticas e de cuidados cresceram: 13% dizem que passaram a cuidar de algum dependente da família. Esse trabalho de cuidado não remunerado acaba afetando especialmente as mulheres jovens, que têm mais dificuldade de acesso à educação e ao mercado de trabalho.

A pesquisa mostrou ainda que as adolescentes são especialmente vulneráveis à má nutrição, enquanto normas culturais de gênero com frequência dificultam seu acesso a uma alimentação nutritiva. Além disso, a insegurança alimentar e demais dificuldades econômicas afetam diretamente o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva, assim como ao planejamento reprodutivo. Esses fatores contribuem para altos níveis de fertilidade, morbidades e mortalidades, assim como um alto índice de gravidez na adolescência.

“Na pandemia, os jovens foram afetados de forma desproporcional pela perda de empregos, redução da renda e acesso a serviços públicos de educação, saúde e proteção social”, diz a oficial de programa do PNUD Maria Teresa Amaral Fontes. “Eles sentem agora que correm o risco de ficar para trás e, por serem agentes de mudança, requerem maior participação nos processos de governança em todos os níveis, desde o global até o nacional e o local.”

“O PNUD acredita que os jovens devem ser sistematicamente incluídos nos planos de recuperação pós-COVID-19 e que plataformas para uma participação significativa devem ser estabelecidas e apoiadas”, declara.

"Acreditamos que as pessoas jovens têm muita capacidade de atuar no desenvolvimento de suas comunidades e na construção de soluções inovadoras para o pós-pandemia, mas devem ter as ferramentas necessárias. Para que isso aconteça, é preciso investir no empoderamento das pessoas jovens, garantindo seu acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva, sua educação e segurança alimentar", afirma a representante auxiliar do UNFPA no Brasil, Júnia Quiroga.

ONU pede medidas concretas para jovens

Além da pesquisa, o dia foi marcado pelo lançamento do documento interagencial "A Juventude da América Latina e do Caribe e a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável: uma visão do sistema das Nações Unidas", cuja apresentação se deu durante evento online na quinta-feira.

O relatório afirma que, apesar dos avanços alcançados na região nos últimos 30 anos nos aspectos econômicos e sociais, os jovens ainda enfrentam exclusões que dificultam o acesso aos benefícios que o desenvolvimento trouxe aos seus países.

As agências da ONU destacam a necessidade de ações e medidas concretas voltadas às pessoas jovens, incentivando sua participação e engajamento nos processos políticos e de tomada de decisão, garantindo que seu pleno potencial seja aproveitado.

O documento pede ainda linhas de ação e políticas integradas e coordenadas que visem promover a participação efetiva dos jovens para alcançar o desenvolvimento sustentável da região. Atores políticos, estatais e do setor privado desempenham papel decisivo nesta tarefa.

“A pobreza, a falta de acesso a mecanismos de participação e as desigualdades são obstáculos enfrentados pela juventude que afetam o desenvolvimento sustentável como um todo”, diz a oficial de programa do PNUD na América Latina e Caribe Gabriela Nones, durante o lançamento do documento.

O relatório interagencial afirma ainda que uma reconstrução pós-COVID-19 mais verde, equitativa e inclusiva deve ser apoiada pela consciência ambiental dos jovens e por investimentos em uma recuperação verde que permita avançar a agenda da transição agroecológica.

O evento online de lançamento do relatório interagencial teve a presença do mineiro Daniel Calarco, de 24 anos, um dos quatro selecionados para compor o grupo Generation17, uma iniciativa da Samsung em parceria com o PNUD que visa ao empoderamento de jovens a partir da tecnologia para trabalhar em prol dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

“A juventude tem papel essencial na governança das instituições, e as tecnologias têm sido importantes para ampliar vozes. Jovens no Brasil estão sendo afetados por violência e exclusões. Há crescentes números de desemprego, brutalidade da polícia, exclusão das políticas públicas, que estão colocando nossas vidas em risco”, afirma.

“Ativistas digitais estão fazendo a diferença com denúncias online. As favelas e segmentos informais estão usando celulares para dar atenção a violações de direitos humanos. É necessário criar políticas que não retratem jovens como vítimas ou perpetuadores, mas como agentes de mudança.”

Sobre a pesquisa

A "Pesquisa das Nações Unidas sobre a Juventude da América Latina e do Caribe no Contexto da Pandemia de COVID-19" foi realizada no âmbito do grupo de trabalho sobre juventude da Plataforma de Colaboração Regional para a América Latina e o Caribe.

O grupo é copresidido pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e é composto pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Organização Internacional do Trabalho (OIT), Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) , Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV / AIDS (UNAIDS), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Programa de Voluntários das Nações Unidas (UNV).