Com apoio do PNUD, programa impulsiona empreendedorismo feminino no Brasil

2 de June de 2022

Raiely Carvalho, 22 anos, participou da Caravana Brasil pra Elas em Palmas (TO). Crédito da foto: PNUD/Luciana Bruno

Guioclessia Cristina, 20 anos, trabalha como cabeleireira autônoma em Palmas (TO) para complementar a renda que recebe do programa Auxílio Brasil. Com um filho de 3 meses, ela pretende formalizar e ampliar seu negócio para juntar algum dinheiro e construir a própria casa. Ela conta com a ajuda do marido, que atua como servente.

Priscila Gardenha, 29 anos, trabalha como lavradora autônoma na área rural de Palmas. Com três filhos, sendo a mais nova de 1 ano, ela e o marido se dividem no cuidado das crianças enquanto trabalham cada dia em uma propriedade rural diferente. A família também é beneficiária do Auxílio Brasil.

Raiely Carvalho, 22 anos, é dona de casa e pretende fazer faculdade de Pedagogia. Com um filho de 2 anos, ela quer ter a própria profissão para depender menos do marido, que trabalha como cobrador de ônibus.

Guioclessia, Priscila e Raiely são três das centenas de mulheres que participaram, na sexta-feira (27/5) no bairro de Taquari, periferia de Palmas, da Caravana Brasil pra Elas, uma iniciativa do governo federal, apoiada pelo PNUD, que ajuda mulheres em situação de vulnerabilidade a empreenderem e terem alguma autonomia financeira.

Por meio de parceria com Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Serviço Nacional de Aprendizagem (Senac), a Caravana divulga e inscreve mulheres em cerca de 100 cursos técnicos e profissionalizantes gratuitos para a formação de operadora de computador, assistente de contabilidade, eletricista automotiva, técnica de confeitaria, costureira, entre outras profissões. Também apoia a formalização de empresas e o acesso a empréstimos.

A iniciativa faz parte do Brasil pra Elas, programa do governo federal lançado em março e liderado pelo Ministério da Economia que promove ambiente favorável ao empreendedorismo feminino, impulsionando o acesso à informação, ao crédito e à sustentabilidade financeira dos negócios. O programa foi criado tendo como base um estudo realizado pelo PNUD que analisou a situação do empreendedorismo feminino no Brasil.

“Vim aqui para olhar a programação de cursos e me profissionalizar. Quero ter mais renda, pensar no meu futuro e realizar meus sonhos. Um deles atualmente é construir minha casa própria”, diz Guioclessia, ao assistir às apresentações de lançamento da Caravana.

“É importante que a mulher tenha seu próprio dinheiro, para ter amor-próprio, poder comprar o que precisa para viver bem”, declara. “Para isso, eu prefiro o empreendedorismo, porque é melhor trabalhar para si do que para outra pessoa.”

As inscrições para os cursos podem ser feitas durante as caravanas, mas as mulheres que não conseguirem estar presentes poderão procurar o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mais próximo e verificar as formações disponíveis. Os bancos parceiros também darão orientações sobre abertura de conta bancária e formalização de empresas.

A Caravana Brasil pra Elas teve início em maio (21), em Campo Grande (MS), passou por Palmas (27) e Salvador (30) e, no próximo 11 de junho, estará em Macapá (AP). O público-alvo são mulheres que não têm ocupação e geração de renda autônoma, de todas as regiões do país, com prioridade às beneficiárias do Auxílio Brasil. Atualmente, 29 milhões de mulheres dependem do programa, representando dois terços dos beneficiários.

As aulas iniciarão logo após as caravanas e terão duração média de até 90 dias. Após conclusão do curso, as mulheres receberão um kit de primeiros passos com instrumentos essenciais.

Acesse a programação: sebrae.com.br

Apoio do PNUD

O apoio do PNUD ao Brasil pra Elas se deu como parte de projeto mais amplo firmado entre o organismo e Ministério da Economia, chamado “Modernização da Economia e Ampliação Qualificada da Inserção Comercial Brasileira”.

Estão no escopo da estratégia ações nos campos de educação, investimento e financiamento, além da mobilização de redes institucionais para apoio à mulher, entre outros. O programa é liderado pela Subsecretaria de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas, Empreendedorismo e Artesanato da Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade (SEPEC), do Ministério da Economia.

As ações prioritárias visam às mulheres sem fonte de renda, mas há iniciativas que também atenderão as que já empreendem com negócios em estágios embrionários; as que já empreendem negócios bem-sucedidos com grande potencial de crescimento; bem como as que atuam no mundo corporativo.

Para Priscila Gardenha, a ida à Caravana Brasil pra Elas serviu para pensar em alternativas de geração de renda, para além de seu trabalho como lavradora. Por gostar de animais, ela pensa em trabalhar em clínicas veterinárias. Para isso, matriculou-se em um curso que ensina a montar currículos e se portar em entrevistas de emprego. “É importante que a mulher tenha renda para ser independente. Quero passar essa lição para minhas filhas também”, afirma.

“Estou me planejando para ter meu próprio dinheiro e, para isso, preciso ter minha própria profissão. Hoje, dependo do meu esposo, mas um dia ele pode faltar, e eu quero garantir meu futuro”, diz Raiely Carvalho, que também se inscreverá nos cursos para poder ter algum dinheiro enquanto cursa Pedagogia.

Para a líder do Brasil pra Elas e subsecretaria de Micro e Pequenas Empresas e Artesanatos da SEPEC do Ministério da Economia, Carol Busatto, a prioridade é a transformação das condições de vida das mulheres em situação de vulnerabilidade.

“No Brasil, parte da população ainda não tem acesso à Internet ou a bancos. Como chegamos até elas? Foi pensando nisso que criamos as caravanas, para dar acesso a essas mulheres, que hoje dependem dos programas de auxílio do governo, e criar uma rampa de acesso para trilhar uma independência econômica”, afirma.

Em 2021, PNUD e SEPEC iniciaram diálogo sobre uma assistência técnica voltada à promoção da igualdade de gênero no campo do empreendedorismo. Foi definido que o projeto daria subsídios para a implementação de um instrumento de políticas públicas voltado à promoção do empreendedorismo das mulheres no Brasil.

O PNUD realizou, então, mapeamento de boas práticas internacionais de promoção ao empreendedorismo feminino; sistematização e atualização do diagnóstico do empreendedorismo feminino no Brasil, identificando principais obstáculos e oportunidades vivenciadas por mulheres no país; e produziu um documento norteador de políticas públicas de promoção ao empreendedorismo feminino.

“Esse esforço tornou-se o principal subsídio técnico do Brasil pra Elas. A articulação política do Ministério da Economia em torno do tema também foi bastante tempestiva. Com isso, houve a possibilidade de lançamento da estratégia nacional. Os resultados desse trabalho se tornaram subsídios tanto para o planejamento das caravanas quanto para sua implementação pelo país”, afirma a gerente de projeto do PNUD Luciana Brant.

“O PNUD, como parceiro nosso, teve papel muito relevante (...). O estudo foi um dos insumos, porque, por trás de uma política pública, existe uma série de análises que desenham essa estratégia. É um grande privilégio poder usar pesquisas avançadas para tecer soluções para a população brasileira, para as mulheres e para quem mais precisa”, diz Busatto, do Ministério da Economia.

Segundo a oficial de gênero e raça do PNUD no Brasil, Ismália Afonso, a aproximação do organismo com o Brasil pra Elas é uma oportunidade para que essa política pública tenha diálogo com conceitos importantes de igualdade de gênero, voltados ao campo do trabalho e da renda.

“O estudo coloca que devem ser enfrentadas as desigualdades das responsabilidades pelo trabalho não remunerado, os obstáculos para acesso aos principais mercados e também para a mudança de cultura, que ainda compreende que as mulheres estão menos preparadas para empreender que os homens”, declara.

“Certamente, o PNUD está oferecendo uma grande contribuição ao Brasil pra Elas e poderá apoiar outras iniciativas em âmbito local e que sejam levadas adiante por outros poderes públicos”, afirma Ismália Afonso.

Outros parceiros da Caravana Brasil pra Elas incluem Confederação Nacional da Indústria (CNI), Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia. Além do Ministério da Economia, também fazem parte da iniciativa o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e o Ministério da Cidadania, além dos governos estaduais e municipais.