“Inspirar para o Futuro” – Crianças e escolas a proteger as florestas de Angola

Ângela Chindossi adora ensinar e adora a natureza, então arranjou a forma perfeita de combinar as duas paixões: dá aulas de protecção ambiental a crianças e professores de escolas públicas, nas comunas da Chipipa e do Mbave, no Huambo. Em dois anos, “já ensinei 1120 crianças e 57 professores”, conta a professora orgulhosa. “Gosto muito”.

Aos 28 anos, Ângela colabora com o projecto Promoção do carvão vegetal sustentável em Angola através de uma Abordagem da Cadeia de Valor, implementado pelo Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, com apoio da ADPP, Universidade José Eduardo dos Santos, Universidade de Córdova, e financiamento do PNUD e GEF. Ela trabalha com a vertente da educação ambiental do projecto, que visa ensinar às comunidades e às gerações futuras como preservar este bem tão precioso: as florestas.

Sem saber, ao ensinar crianças, dos 7 aos 16 anos, e professores como cuidar das árvores e das florestas, promovendo a sustentabilidade ambiental, a professora Ângela acaba por materializar o lema do Dia Internacional das Florestas para 2022: “Inspirar para o Futuro - O Papel das Florestas na Garantia de Produção e Consumo Sustentáveis”.

Com o apoio dela, directo ou indirecto, já foram produzidas 6300 árvores em cerca de 20 escolas. As árvores são plantadas no interior das escolas e nos espaços ao redor por professores e alunos, e oferecidas às comunidades, para que elas plantem e cuidem delas. 

Professora Ângela, na Chipipa.

Ao longo do ano, Ângela vai organizando actividades divertidas para entreter, ensinar e cativar as crianças, como concursos de desenho e caminhadas pelas florestas ao redor das comunidades. “Eles gostam bastante e muitos sabem desenhar muito bem”, conta a professora. Durante as caminhadas “nas florestas nativas, eu explico a importância da plantação de árvores e eles vão citando os nomes das diferentes espécies florestais que encontramos nas florestas”.

Entre as brincadeiras educativas de que os mais novos mais gostam estão as “Olimpíadas do Ambiente”, que a professora implementou para chamar mais crianças para as actividades. Ela conta que são desafios e concurso, e que da última vez participaram 100 crianças. 22 delas ganharam como prémios cadernos, lápis, esferográficas, mochilas e outros materiais escolares.

“Eu preciso trabalhar, eu preciso produzir. A plantação é o caminho para seguir”, cantam alguns dos alunos da professora Ângela, na Chipipa. 

Para poder falar sobre a protecção das florestas e sustentabilidade ambiental com propriedade, Ângela, que já era professora de formação, participou no programa de capacitação para a área ambiental da ADPP, parceira do projecto.

O projecto de promoção de carvão vegetal sustentável visa ensinar as comunidades a produzirem carvão de uma forma amiga do ambiente, cortando menos árvores, usando fornos melhorados, que emitem menos gases poluentes, e ensinando as populações a produzirem viveiros, para plantar novas árvores nas zonas mais lesadas. Evita, assim, a desflorestação, promove uma gestão sustentável dos recursos naturais e contribui na redução das emissões de CO2.

Há ainda outra vertente do projecto que consiste em ajudar as comunidades a criarem meios alternativos de rendimento, como a produção e venda de mel natural, e a transformação de frutas em doces, marmeladas e sumos, igualmente para venda. Assim, ameniza-se a necessidade da produção de carvão e, consequentemente, a pressão sobre as florestas, contribuindo de igual modo na redução da pobreza.

O programa de educação ambiental do projecto prevê também a realização de aulas sobre o meio ambiente nas comunidades e aldeias, por isso a professora Ângela é bem conhecida na zona da Chipipa e Mbave.

Ela está feliz com o trabalho que faz, pois tanto as crianças como os professores partilham os ensinamentos com pessoas próximas, espalhando a mensagem de preservação da natureza. “Os alunos contam aos pais e tios” e os outros “professores transmitem aos seus alunos”, e assim sucessivamente.

Gregório Estanislau, de 33 anos, é um dos alunos de Ângela que aprendeu bem e a lição e agora ensina outros. Professor da escola n.º 78 da Chipipa, ele ajudou os seus alunos, dos 8 aos 12 anos, a plantarem 14 árvores na escola. E “quem cuida das árvores são os alunos”, conta Gregório. 

Gregório Estanislau, Professor da escola n.º 78 da Chipipa.

Na formação dada pela Ângela, “aprendemos como cuidar do meio ambiente. Aprendemos a criar viveiros de árvores nativas e de fruteiras disso já plantámos algumas plantas ao longo da escola e a tendência é de continuarmos”, diz o professor. “Plantámos não só na nossa escola, mas também participámos em plantios em outras escolas próximas da nossa”. O próximo plano do professor Gregório é “incentivar os alunos a terem hortas escolares”.

Aos alunos e às suas famílias, principalmente as famílias que vivem da venda de carvão, Gregório vai repetindo a mensagem da sustentabilidade: “Algumas árvores levam 7 anos para crescer e 2 minutos para destruir”. 

Educar para proteger as florestas do Huambo