“A transição energética é uma oportunidade única em termos de desenvolvimento sustentável para o Nordeste do Brasil”, afirma especialista do PNUD

Carlos Salgado, especialista em energia do PNUD para América Latina e Caribe, esteve no Brasil neste mês para participar da Brazil Energy Conference, em Teresina (PI). Confira abaixo os principais trechos de sua entrevista ao site do PNUD Brasil.

18 de Junho de 2025


Importância da Brazil Energy Conference para o Nordeste, o Brasil e o mundo. 

A transição energética é uma oportunidade única em termos de desenvolvimento sustentável para o Nordeste do Brasil. O Brasil tem 90% da matriz de geração elétrica verde, o Nordeste 95%, e o Piauí quase 100%. Essa primeira transição energética já foi feita no Nordeste brasileiro. Acho que a conferência traz uma oportunidade única também para poder apresentar esses resultados, (mostrar) como o Nordeste alcançou isso. Por exemplo, tivemos a apresentação da presidente da ABDE à mesa redonda inicial, com a participação do governador do Piauí e do PNUD. Foi apresentado (na ocasião) que o sistema nacional de fomento, os bancos nacionais e subnacionais de desenvolvimento do Brasil, como BNDES, BNB, BASA, canalizaram quase R$ 150 bilhões nos últimos 10 anos para a transição energética. A Sudene teve papel essencial nesse processo, com o FNE, com o FDNE, com os incentivos fiscais. Então, a conferência foi muito importante para poder apresentar esses resultados, compartilhar, mas também pensar o futuro, pois isto foi mencionado pelo governador (do PI) Rafael Fonteles: a grande prioridade para região, a primeira transição energética já foi feita, mas o próximo passo é o mais importante talvez, é o passo de desenvolvimento. Como vamos transformar e utilizar essa matriz elétrica verde do Nordeste para atrair investimentos adicionais e investimentos industriais e promover uma nova industrialização verde do Nordeste, essa é a grande oportunidade, oportunidade única para a região.  

Condições do Brasil e do Nordeste para a transição energética. 

O Nordeste e o Brasil têm várias fortalezas nesse sentido, a matriz verde. No Brasil, temos um mercado de capitais, um mercado financeiro sofisticado. Temos bancos públicos, sistema de fomento trabalhando, a Sudene, as agências de desenvolvimento trabalhando para apoiar esse processo.  A Brazil Energy Conference traz realmente a oportunidade de apresentar essa prioridade, talvez número 1 para a Região Nordeste. E, além de escalar o investimento, que é muito importante, discutimos muito durante a conferência em sessões, painéis, laboratórios de inovação financeira, opções de instrumentos financeiros inovadores para a região. Por exemplo: blended finance, financiamento combinado, como utilizamos o limitado capital público existente para poder alavancar o capital privado. Isso é muito importante. Sistemas de garantia, crédito de carbono... A inovação financeira é essencial. Temos que trazer essa inovação financeira, hoje muito concentrada em São Paulo, na Faria Lima, para o Nordeste do Brasil, para o Piauí. Então acho que a conferência nesse sentido foi essencial.  

Impacto dos investimentos “verdes” no desenvolvimento. 

Outro tema importantíssimo que saiu da conferência e é crucial para o Nordeste e para o PNUD, como agência de desenvolvimento das Nações Unidas, é o impacto de desenvolvimento desses investimentos, ou seja, aqui é muito importante apoiar o setor público, apoiar as agências de desenvolvimento dos bancos públicos, dos estados e municípios, a poder criar teses de investimentos alinhadas com as prioridades de desenvolvimento locais para poder priorizar de forma mais assertiva, eficiente, eficaz os investimentos públicos para poder gerar empregos, ter um impacto positivo na comunidade local, ir ao local, trabalhar com a escala desses investimentos, ou seja, capital público alavancando capital privado, impacto de gênero, geração de emprego para mulheres, por exemplo, a área de biodiversidade, governança climática, mudança climática, adaptação, mitigação, tudo isso tem que ser considerado.  

Atuação do PNUD. 

No PNUD, temos trabalhado fortemente com a Sudene, com o Consórcio Nordeste e com o Governo do Piauí, para poder apoiar a inovação financeira na região, estruturar a plataforma de investimento para dar escala ao investidor internacional, ao investidor chinês, ao investidor europeu, ao investidor americano, para atrair esse capital para diferentes estados, mas com escala regional. Cada estado com sua especialidade, vamos dizer assim, e sua prioridade em termos de transição energética. Além disso, também estamos apoiando essas agências, a Sudene, o Consórcio Nordeste e o Governo do Piauí, a também trabalhar com o tema do impacto. Estamos pilotando com a Sudene um marco e um guia de investimentos de impacto para a transição energética, para ajudá-los a criar uma tese de investimento, priorizar os investimentos que eles canalizam com FNE, com FDNE e com os incentivos fiscais, e também medir o impacto de desenvolvimento nas dimensões que eu mencionei: social, gênero, mudança climática, ambiental, biodiversidade, financeira etc.