Rede Pajeú de Agroecologia: trabalho coletivo no Semiárido de Pernambuco

Articulação da sociedade civil tem como objetivo incidir em políticas públicas sobre temas como defesa do rio Pajeú, combate às mudanças climáticas e protagonismo de mulheres na agroecologia.

15 de Julho de 2025

Representantes de organizações que integram a Rede Pajeú de Agroecologia e parceiros reunidos para apresentação de planejamento estratégico

Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN

O Sertão do Pajeú, Semiárido de Pernambuco, abriga 17 municípios e cerca de 314 mil habitantes, incluindo cidades como Serra Talhada, Sertânia, São José do Egito e Afogados da Ingazeira. Marcada por tradições sertanejas, paisagens de clima seco e uma rica diversidade cultural — do cordel à poesia —, a região enfrenta desafios como a poluição de recursos hídricos e as mudanças climáticas, mas também se destaca por iniciativas de resistência e convivência sustentável com o bioma.

É o caso da Rede Pajeú de Agroecologia (RPA), que articula organizações agroecológicas com o objetivo de influenciar políticas e fortalecer a região em torno de temas como a proteção do Rio Pajeú, o combate às mudanças climáticas, o papel das mulheres na agroecologia e o desenvolvimento dos territórios.

"A atuação em rede é estratégica porque ninguém faz nada sozinho. Nossas propostas de convivência com o Semiárido, combate à desertificação e às mudanças climáticas só se concretizam por meio de processos coletivos", afirma a coordenadora do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, uma das organizações fundadoras da Rede Pajeú, Riva Almeida.

Após o processo de planejamento estratégico, com apoio do Fundo Ecos, do Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN) e do PNUD, entre agosto de 2024 e abril de 2025, a Rede Pajeú de Agroecologia se reorganiza para ampliar sua capacidade de atuação. 

“O planejamento estratégico era uma demanda para a RPA seguir construindo sustentabilidade, tendo como protagonistas associações de mulheres, grupos informais, organizações não governamentais e sindicatos, comprometidos com a convivência com o Semiárido. Essa tem sido a luta da RPA, desde os primeiros movimentos”, explicou a supervisora de projetos da Casa Mulher do Nordeste, Sara Rufino. 

Para a representante da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, Apolônia Gomes, o planejamento foi fundamental para que a articulação pudesse encontrar seu norte e estabelecer a governança. “A partir da construção desse espaço, sobretudo as mulheres conseguiram entender seu papel na RPA, na comunidade e nos espaços em que atuam”. 

A Rede Pajeú é composta por Centro Sabiá, Casa Mulher do Nordeste, Associação Agroecológica do Pajeú (ASAP), Diaconia, Associação Comunitária de Bom Sucesso, Associação Rural Mista da Comunidade de Fortuna, entre outros. Cada uma dessas instituições lidera um debate estratégico. 

A Rede Pajéu tem sido um importante ator no território que tem buscado promover o debate sobre temas relevantes para o desenvolvimento sustentável local. Dentre eles, o tema de desmatamento e queimadas preocupa a comunidade.  Para além disto, a Rede tem apontado para os desafios ambientais e sociais da expansão dos parques eólicos e solares no Sertão Pajeú, como poluição sonora, ampliação das linhas de transmissão e impacto na trajetória migratória de aves. Igualmente, a Rede tem sido uma forte defensora da preservação e conservação da Bacia Hidrográfica do Pajeú, participando ativamente na gestão das águas, por intermédio de seu Comitê, conectada com a busca de soluções para problemas como desertificação, impactos de energias renováveis e promoção da agroecologia.  Outro ponto de atenção da Rede refere-se ao curso hídrico do Rio Pajeú que recebe o lançamento de esgotos urbanos e lixo de nove emissores diferentes.

Empoderamento das mulheres – A região do Pajeú enfrenta historicamente um contexto de violência contra mulheres. Somente nos primeiros seis meses de 2024, foram 1.203 casos de violência registrados em todas as 17 cidades do Pajeú, quase 5% dos 26.752 casos que ocorreram em todo estado no mesmo período. Os municípios no Pajeú que lideram o ranking são Serra Talhada, Afogados da Ingazeira, São José do Egito, Tabira e Carnaíba.

“Um dos princípios da Rede é enfatizar a perspectiva da igualdade de gênero, para garantir autonomia econômica, acesso e controle aos recursos e bens comuns e a participação das mulheres nos espaços de decisão política”, explica Sara Rufino, da Casa Mulher do Nordeste. 

Apolônia Gomes, por sua vez, lembra que a Rede tem sido “porta de entrada” para que mulheres discutam políticas públicas em seus municípios, “para que elas estejam nesses locais, atuando e se fortalecendo, acessando mercado e outras políticas, deslanchando a comercialização e trabalhando os produtos que produzem”. 

“É mais um espaço para que a gente paute os direitos das mulheres, como a divisão justa do trabalho doméstico, a produção e inserção no mercado institucional, para que elas rompam o ciclo de violência”, conclui a representante da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú. 

O apoio do Fundo Ecos à Rede Pajeú de Agroecologia é uma ação estratégica para fortalecimento de articulações comunitárias e socioambientais, parte da Sétima Fase Operacional do Small Grants Programme, implementada no Brasil pelo ISPN, em parceria com PNUD e com recursos do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF). Saiba mais aqui

Texto por assessoria de Comunicação do ISPN em colaboração com o PNUD.