Desde o início da pandemia de COVID-19, o tremendo poder da tecnologia e da inovação tornou-se claro para o mundo. No entanto, também aumentou a exclusão, a discriminação e as desigualdades – especialmente para mulheres e meninas. No Dia Internacional das Mulheres, devemos reimaginar um mundo em que a inovação e as tecnologias sejam intencionalmente aproveitadas para transformar nossas sociedades e economias de modo que os recursos e o poder sejam distribuídos de forma mais equitativa. Mulheres e meninas de todo o planeta anseiam por essa mudança radical, e é fácil compreender por quê.

Há uma crescente divisão digital de gênero, e um pressuposto equivocado de que o uso de ferramentas e serviços digitais aumentará simplesmente com o acesso universal à internet. Noventa e cinco por cento da população mundial têm acesso a uma rede de banda larga móvel. No entanto, apenas um quarto da população dos países de renda mais baixa utiliza a internet, com 21% das mulheres online nesses países, em comparação com 32% dos homens. Em conjunto, muitas mulheres e meninas – especialmente mulheres na política, eleitoras, defensoras de direitos humanos e do meio ambiente, pessoas LGBTQI+, ativistas, grupos feministas e mulheres jovens – enfrentam formas generalizadas de violência online, ameaçando a participação, bem como a saúde mental e o bem-estar delas.

Testemunhamos o apelo à transformação social vindo das mulheres que estão na dianteira dos movimentos de mudança social – online e nas ruas – em seus países e mundo afora.

A tecnologia digital pode alimentar a democracia e os direitos humanos ao estimular o engajamento cívico e a participação política. Isso inclui o emprego da ciência comportamental para ajudar a garantir que as mulheres possam ter acesso a seus direitos de propriedade na Síria, um esforço apoiado pelo Laboratório de Aceleração do PNUD no país. Ou considerar a plataforma eMonitor+ desenvolvida na Tunísia, que utiliza Inteligência Artificial para identificar má informação/desinformação, discurso de ódio e violência contra mulheres em torno das eleições. Ou mirar inovações que adotam energia solar para captar água da chuva e tratá-la para produzir água potável na Tanzânia – permitindo que mulheres e meninas evitem caminhadas de quilômetros todos os dias para buscar água.

Em uma época em que é negado às mulheres e meninas o acesso à educação em países como o Afeganistão, a plataforma STEM4ALL, coordenada pelo PNUD e pelo UNICEF, visa aumentar a representação feminina em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês). Essa rede de 'STEMinistas' planeja expandir-se de 34 países para um alcance global – parte de esforços necessários para ajudar a garantir que as mulheres possam liderar nossas novas sociedades digitais, que darão impulso a tudo, desde a ação climática até a restauração de nosso mundo natural.

O PNUD está atuando com parceiros-chave, como a ONU Mulheres, para apoiar os países na construção de ecossistemas digitais inclusivos que funcionem para as mulheres em toda a sua diversidade, orientado por nossa Estratégia de Igualdade de Gênero 2022-2025 e nossa Estratégia Digital 2022-2025. Todas e todos nós temos um papel a desempenhar na amplificação da voz das mulheres; na participação delas na vida pública e no acesso à justiça, incluindo iniciativas de e-gov.

São necessários também mais esforços para combater a discriminação e a violência contra as meninas com deficiência. E as finanças digitais serão um meio fundamental para permitir que as mulheres conquistem pleno controle sobre suas finanças – talvez o meio mais poderoso para reduzir a pobreza e fazer avançar os Objetivos Globais. Em suma, as mulheres e meninas devem ser parte intrínseca da resposta aos desafios mais prementes das pessoas e do planeta.

Achim Steiner, Administrador, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

O tema do Dia Internacional da Mulher, 8 de Março de 2023 (IWD 2023), é "DigitALL: Inovação e tecnologia para a igualdade de gênero".