A brasileira Açucena, estudante de Direito na Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia, está entre eles.
Como 5 jovens líderes da América Latina e do Caribe estão impulsionando soluções climáticas
12 de Agosto de 2025
Com o agravamento dos impactos das mudanças climáticas, jovens do mundo todo se sentem ansiosos quanto ao futuro. No entanto, eles seguem em grande parte excluídos dos espaços de decisão governamentais e internacionais que moldam esse futuro.
Na América Latina e no Caribe, jovens de 15 a 29 anos representam 25% da população. Porém, eles detêm apenas 4,7 % dos assentos parlamentares (https://www.undp.org/latin-america/stories/towards-democracy-and-youth-lac).
Apesar desse desafio, a juventude de toda a região não desanima. Com determinação e um profundo senso de responsabilidade, eles estão criando seus próprios espaços para impulsionar a mudança em suas comunidades.
Aqui estão cinco jovens líderes climáticos da América Latina e do Caribe, entre eles uma brasileira, que estão trabalhando apaixonadamente para enfrentar a crise climática.
A pesquisadora – Açucena
Açucena é estudante de Direito na Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia, no Nordeste do Brasil. Mas sua história começou a 500 km de distância, às margens do Rio São Francisco. Ela foi criada na comunidade indígena Tumbalalá, onde recebeu educação escolar indígena.
Durante sua infância, ela testemunhou sua comunidade e sua família lutando para obter os direitos de suas terras. Isso alimentou sua determinação de estudar Direito e se tornar uma defensora dos direitos de seu povo.
"Para nós, povos indígenas, a demarcação de nossos territórios é crucial para garantir a preservação da natureza, de nossos costumes e de nossas tradições", afirma Açucena.
Em 2021, ela participou da segunda Marcha das Mulheres Indígenas em Brasília, ponto decisivo em sua jornada que lhe permitiu fazer conexões com a grande diversidade de Povos Indígenas no Brasil.
Como estudante, Açucena realiza pesquisas e oferece consultoria sobre a interpretação legal do "Marco Temporal", que restringe os direitos territoriais indígenas aos territórios ocupados física e permanentemente a partir de 1988, ano da atual Constituição do Brasil. Ela também está estudando os impactos causados pelas usinas hidrelétricas construídas no território de sua comunidade. Ela analisa como essas intervenções afetaram sua comunidade e como contribuir para minimizar esses impactos enquanto defende os direitos dos povos indígenas.
"Entendo que fazemos parte de uma minoria historicamente invisível que sofre diariamente com os impactos da crise climática e as constantes violações de nossos direitos", destaca a jovem.
Açucena participou de várias conferências internacionais sobre o clima, trazendo as vozes dos povos indígenas de sua comunidade e de seu país para os espaços de tomada de decisão climática. Algumas dessas oportunidades foram facilitadas pelo PNUD, que apoia a inclusão dos povos indígenas nas negociações sobre o clima.
O assistente social – Julián
Julián tem formação em Direito e Ciência Política e é apaixonado por trabalhar com comunidades vulneráveis e lutar pelos direitos humanos em sua cidade natal, Medellín, na Colômbia.
Com sua organização, Somos Por Naturaleza (https://www.instagram.com/somosxnaturaleza/), ele e um grupo de jovens ajudam as comunidades a se prepararem melhor para os impactos das mudanças climáticas. Eles trabalham em La Honda, um assentamento informal nas colinas de Medellín, onde se estima que vivam 20 mil pessoas, muitas das quais são migrantes ou refugiados que escaparam da violência ou foram deslocados internamente. Devido a sua localização vulnerável, La Honda é severamente afetada por inundações e deslizamentos de terra após fortes tempestades.
"Ao trabalhar com comunidades vulneráveis, entendi que os problemas ambientais são muito reais e um problema muito urgente a ser resolvido", afirma.
Assentamentos informais como La Honda geralmente não são contabilizados nos planos do governo para gerenciamento de riscos e prevenção de desastres. Julián e sua organização estão trabalhando para mudar isso, mantendo as autoridades locais informadas e responsáveis por incluir esses bairros marginalizados no planejamento urbano e nas medidas de adaptação às mudanças climáticas de Medellín.
Eles também trabalham ativamente com a comunidade para construir resiliência aos impactos climáticos. Eles estabelecem sistemas comunitários de monitoramento climático e alerta precoce, fornecem treinamento para líderes comunitários sobre como responder a eventos climáticos extremos e realizam estudos demográficos para melhor compreender a população do bairro para uma resposta rápida e adaptada localmente.
Além disso, com um prêmio da Youth4Climat e (https://climatepromise.undp.org/what-we-do/ iniciativas-emblemáticas/youth4climate), o Somos Por Naturaleza testará intervenções concretas de adaptação climática, incluindo o plantio de árvores para reduzir o risco de deslizamentos de terra e a construção de sistemas de drenagem para evitar inundações.
A advogada – Camila
A família de Camila motivou sua paixão pela justiça social desde muito jovem. Depois que sua mãe faleceu, Camila, que tinha apenas 11 anos de idade, passou a ser criada por sua tia e tio, que incutiram nela interesse pelos direitos humanos. Isso acabou levando-a a se formar em Direito. Depois de fazer uma aula sobre direito ambiental, ela se apaixonou pelo assunto.
"Percebi que hoje em dia não há outro caminho de estudos de direitos humanos mais poderoso do que o clima", destaca.
Há quatro anos, Camila se uniu a um grupo de jovens advogados que trabalham em casos de justiça climática e litígios climáticos. Sua organização, Nuestro Futuro (https://www.instagram.com/nuestrofuturoac/), oferece programas educacionais sobre direito climático para faculdades e organiza atividades com jovens para conscientizar e encontrar soluções para as questões climáticas.
Um momento decisivo em sua jornada foi trabalhar com a comunidade de El Bosque, em Tabasco, primeira comunidade reconhecida como deslocada pelo clima no México devido à perda de muitas casas por causa da erosão costeira.
"Eu podia ver os rostos das pessoas que viviam essa crise climática todos os dias e que poderiam ter perdido tudo", afirma a jovem.
Atualmente, Camila continua a trabalhar com o Nuestro Futuro, inspirada por seus jovens colegas, muitos deles mulheres, para fornecer apoio jurídico a comunidades carentes. Com o apoio da Youth4Climate (https://climatepromise.undp.org/what-we-do/ iniciativas-emblemáticas /youth4climate), eles organizam atividades para envolver os jovens, como hackathons sobre defesa pública do clima. Eles orientam os jovens, ajudam-nos a melhorar seus projetos e os ensinam a apresentar esses projetos às autoridades competentes.
O educador – José Francisco
José cresceu cercado por uma incrível biodiversidade e natureza em Loja, pequena cidade no sul do Equador. Quando ele tinha 11 anos, uma visita às Ilhas Galápagos despertou seu amor pelo oceano e selou sua profunda conexão com o mundo natural, inspirando-o a se tornar um biólogo.
Como estudante, ele participou de um projeto de pesquisa para estudar microrganismos do solo em uma comunidade de mineração artesanal na Amazônia. Pela primeira vez, ele testemunhou a degradação ambiental e seu impacto nas comunidades vulneráveis.
"Percebi que se tratava de poluição ambiental, mas também de dignidade, educação, falta de infraestrutura, pobreza", afirma o jovem.
Depois de se formar, José percebeu que havia uma enorme barreira no acesso à educação oceânica e climática. Muitos recursos não estavam disponíveis em espanhol ou não chegaram às comunidades mais afetadas por questões ambientais e climáticas, principalmente os jovens. Ele decidiu agir.
"Não podemos esperar que as pessoas protejam o que não entendem. A educação é uma das ferramentas ambientais mais valiosas", destaca Francisco.
Junto com um grupo de jovens como ele, José co-fundou a organização Academia del Océano (https://academiadeloceano.com/), o primeiro centro de educação oceânica do Equador. A Academia del Océano oferece atendimento presencial e virtual que milhares de jovens de toda a América Latina tiveram a oportunidade de acessar. Seu centro educacional na comunidade costeira de San Jacinto, no noroeste do Equador, também serve como espaço comunitário, promovendo o envolvimento da comunidade local nos esforços de conservação.
Como um jovem líder da Geração 17 (https://www.undp.org/generation17), José teve a oportunidade de participar de conferências ambientais, onde compartilhou sua experiência e trocou conhecimentos e ideias com líderes de todo o mundo. Ele está empenhado em tornar a educação oceânica mais inclusiva, acessível e moldada com contribuições de comunidades na linha de frente das mudanças climáticas.
A empreendedora social – Tracey-Ann
Tracey-Ann é de uma comunidade rural em Saint Catherine, Jamaica. Ela se tornou uma jovem mãe aos 13 anos, mas, com o apoio de sua família, conseguiu criar seu filho e continuar seus estudos, formando-se em finanças e administração de empresas.
No entanto, ela diz que sua verdadeira educação veio da vida. Sobrevivente da violência de gênero, Tracey-Ann dedicou sua vida, voz e experiência para ajudar outras pessoas e fundou a I-SEEED Youths (https://www.instagram.com/iseeedyouthsltd/?hl=en) em 2017.
"Para minha surpresa, as pessoas começaram a gravitar em minha direção. As comunidades próximas começaram a ouvir e eu me tornei uma voz para os sem voz naquele momento específico, afirma.
Tracey acredita na importância de ter um lugar para os sobreviventes de violência se sentirem seguros e poderem falar, mas também na importância de criar oportunidades de trabalho para ajudar a quebrar os ciclos de violência. Por meio do I-SEEED, mulheres e jovens aprendem sobre resiliência climática e adquirem habilidades (https://www.adaptation-undp.org/greenhouse-jamaica-has-become-safe-haven-women-and-jovens ) que lhes permitem garantir um emprego. A organização oferece treinamentos em agricultura, negócios e educação climática em uma estufa movida a energia solar.
"Capacitamos os jovens a entrar em diferentes comunidades e conversar com as pessoas sobre questões que os estão afetando", ressalta a jovem.
Com sua organização, Tracey-Ann impactou quase 20 mil vidas, montando seis jardins inteligentes para o clima e estabelecendo o primeiro modelo totalmente operacional da fazenda à mesa, desenvolvido por jovens e sobreviventes de violência de gênero na Jamaica. Ela combina sustentabilidade, ativismo climático, cura social e empreendedorismo por meio de espaços seguros, senso de propósito e amor pela Terra e pelo meio ambiente.
"Só de ver as pessoas vindo aqui, trabalhando, apenas ouvindo suas histórias, quando elas dizem que ninguém nunca fez isso por elas, essas são apenas algumas das coisas mais poderosas", conclui Tracey-Ann.