Ampliação do acesso a inovações para a prevenção do HIV

29 de August de 2022

Enfermeira da clínica CeSHHAR em Mutare, Zimbábue, realiza um teste rápido de HIV antes de explicar como funciona a PrEP a um cliente.

Foto: PNUD Zimbábue/Cynthia R. Matonhodze

Quando a epidemia global de HIV começou, há mais de 40 anos, a AIDS era uma doença terminal. Agora é uma enfermidade que se pode prevenir e considerada crônica quando se tem acesso ao tratamento. Contudo, o acesso aos serviços de prevenção e tratamento não é igualitário, e as inovações nem sempre chegam às pessoas que precisam.

Já faz mais de uma década que foi publicada a primeira evidência da eficácia da profilaxia pré-exposição ao HIV oral diária (PrEP). A PrEP é uma pílula que se pode tomar diariamente para ajudar a prevenir o HIV. Em 2021, mais de 1,6 milhão de pessoas em todo o mundo estavam recebendo a PrEP, número aquém da meta de 10 milhões de pessoas até 2025.

 

Parcerias

Até recentemente, a PrEP concentrava-se em países de renda alta. Nos últimos dois anos, houve uma adoção acentuada da profilaxia na África Oriental e Austral.

“Ouvi falar pela primeira vez sobre a profilaxia pré-exposição em 2018, quando comecei a vir ao Centro de Saúde Sexual e Pesquisa em HIV/AIDS para o tratamento. A clínica atende profissionais do sexo. As tias, nossas enfermeiras que trabalham aqui, nos contavam o porquê da PrEP e por que ela é boa. Foi assim que eu soube a respeito”, diz Nashly, 26 anos, de Mutare, Zimbábue.

Nashly relatou ter sido estuprada a caminho de casa após sair do trabalho em 2020, o que resultou em gravidez. Ela passou por um drama psicológico diante da possibilidade de o bebê e ela contraírem AIDS. “Vi o benefício da PrEP quando dei à luz. Meu bebê não tem HIV, e eu também não o contraí”, diz ela.

“Os serviços que recebemos no Centro são importantes para nós. Se esses serviços não estivessem mais disponíveis, sofreríamos e todos adoeceríamos”, afirma.

O PNUD está apoiando países na ampliação do acesso à PrEP para as comunidades mais vulneráveis, como parte de seus esforços para melhorar e expandir a cobertura da prevenção do HIV em populações-chave (homens gays e outros homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, pessoas trans, pessoas que usam drogas e prisioneiros) e seus parceiros sexuais, que agora respondem por 70% das novas infecções por HIV em todo o mundo.

Em 2021, no Zimbábue, o PNUD em parceria com o Fundo Global, o Ministério da Saúde e ONGs alcançaram 3.300 profissionais do sexo com a PrEP. Isso se deu por meio de encontros em locais fixos que forneciam serviços de prevenção e divulgação realizados por ONGs parceiras, como o Centro de Saúde Sexual e Pesquisa em HIV/AIDS do Zimbábue (CeSHHAR).

No Paquistão, o PNUD, com o apoio do Fundo Global e em parceria com organizações comunitárias locais, o governo, o UNAIDS e a OMS, lançaram em junho de 2022 uma nova iniciativa relacionada à PrEP, que envolve estreita colaboração com comunidades da população-chave para fornecer profilaxia por meio de redes de agentes e centros de apoio. Além disso, os profissionais de saúde do governo alocados nos Centros de Tratamento Antirretroviral (ART) estão sendo treinados para fornecer serviços de PrEP seguros e eficazes.

“Quando descobri a PrEP, eu mesma quis usá-la”, relata Kiran Danesh, da Gender Interactive Alliance, em Karachi, no Paquistão. “Quando pedi ao meu médico para me dar PrEP, ele me informou que não era uma boa coisa e que eu não deveria usá-la. Posteriormente percebi que o médico estava errado e que provavelmente não tinha as informações corretas”, continua.

“Eu mesmo gostaria de usar a PrEP”, diz Mobin Ahmed, da Saathi Foundation, em Faisalabad. “Estou trabalhando como líder em minha comunidade e quero dar o exemplo para as pessoas de que esse é um medicamento benéfico. Vou usá-lo assim que estiver disponível", garante.

 

Plataformas digitais

As soluções digitais podem desempenhar papel importante na ampliação do acesso a serviços para populações vulneráveis e marginalizadas, bem como no aumento da retenção. Na Colômbia, a plataforma prep-Colombia.org é usada para triagem inicial, agendamento de consultas médicas, registro de consultas de acompanhamento e compartilhamento de resultados de exames laboratoriais. Também permite aos médicos criar diferentes métricas, como nível de aceitação, continuação inicial, prevalência de toxicidade e status de HIV. Tudo isso aliado a treinamentos sobre estratégias de prevenção combinadas atingindo mais de 20.300 pessoas. Essa abordagem inovadora permitiu garantir a prestação contínua de serviços, obter uma boa adesão ao tratamento e apoiar os indivíduos apesar dos desafios impostos pela pandemia de COVID-19.

“Graças ao prep-Colômbia, hoje sei cuidar de mim e das pessoas que amo e estão ao meu redor. Testar negativo (para AIDS) me dá paz de espírito e me faz querer viver a vida, obviamente com responsabilidade”, diz Joan Alfaro, de 22 anos, líder social colombiano.

 

A necessidade de aumentar

Com o potencial da PrEP e outras ferramentas inovadoras, como ARVs de longa duração para PrEP e anel vaginal para mulheres, capazes de transformar a prevenção do HIV, simplesmente não se pode permitir a repetição de erros do passado.

Somente lidando com as desigualdades e aumentando a capacidade de acesso a serviços de saúde e HIV para as pessoas que vivem com o HIV, populações-chave e de outros grupos excluídos, será possível recuperar o tempo perdido na luta contra a AIDS.