Participar para confiar: jovens e instituições com futuro
28 de Agosto de 2025
Em meio aos desafios enfrentados pela América Latina e Caribe (ALC) – como o avanço das mudanças climáticas, o enfraquecimento do contrato social e a necessidade urgente de reconstruir a confiança entre instituições e cidadãos – surge uma oportunidade vibrante para reinventar o vínculo entre instituições e sociedade. Com 165 milhões de jovens – um quarto da população regional –, a atual geração exige ser parte ativa das soluções, não apenas como destinatária de políticas públicas, mas como cocriadora de um novo pacto social. Os jovens, mesmo nos contextos mais incertos, estão no centro dessa transformação.
Embora dados recentes mostrem o menor apoio à democracia entre os jovens de 16 a 25 anos, e cerca de 40% da juventude expressem desconfiança dos governos, isso revela um apelo urgente para renovar o contrato social, construindo modelos mais inclusivos, transparentes e participativos para uma geração que busca ser ouvida e ser parte ativa da mudança. Esse ceticismo se insere no contexto do que o próximo Relatório de Desenvolvimento Humano Regional chama de "novo complexo de incerteza", no qual a polarização e as mudanças planetárias aumentam as inseguranças cotidianas, criando um cenário de volatilidade e desconfiança generalizada.
Essa complexidade marca uma mudança de paradigma no pensamento sobre o desenvolvimento – que exige uma transformação nas abordagens políticas para lidar com ameaças sobrepostas e interconectadas e coloca a integridade do setor público, o nível de abertura do governo e dos espaços participativos, a qualidade dos serviços e a equidade, como fatores-chave nos níveis de confiança dos jovens nas instituições democráticas [1].
É um apelo para recalibrar, equipar as sociedades com ferramentas para navegar pela mudança, projetar instituições que se adaptem a contextos em mudança e investir na capacidade das comunidades de imaginar e construir futuros melhores.
Participação e inovação: entre a lacuna e a oportunidade – Atualmente, 45% dos jovens da região não têm acesso à internet em suas casas, o que revela uma profunda exclusão das oportunidades educacionais, de trabalho e de participação cívica. (Latinobarómetro citado no Série de Desafios, 2024). A exclusão digital é uma barreira estrutural que aprofunda as desigualdades entre os jovens. Mesmo assim, a juventude está respondendo com resiliência e engenhosidade: está se apropriando de ferramentas digitais para transformá-las em instrumentos de mudança em direção a um espaço público mais aberto e inclusivo. Ela usa as redes sociais para mobilizar, denunciar injustiças e tecer solidariedade que transcende fronteiras.
O Atlas de Inteligência Artificial para a América Latina e o Caribe destaca o potencial das tecnologias, especialmente a inteligência artificial (IA), para criar canais mais confiáveis e transparentes de participação, controle e tomada de decisões nas instituições. Quando desenvolvidas com uma abordagem centrada nas pessoas, essas tecnologias podem combater a desinformação, a manipulação da informação e a deterioração da confiança institucional.
Nesse cenário, a governança antecipatória propõe o uso de ferramentas de previsão e análise de futuros para que instituições e cidadãos, especialmente jovens, possam cocriar políticas públicas de forma mais proativa. Ferramentas como a "Roda dos Futuros" ou o exercício "Imagens do Futuro", incluídas no Guia Democratizando Futuros, permitem que os jovens não apenas reajam ao presente, mas também se articulem e planejem, identificando os riscos e oportunidades para construir o futuro que desejam.
Combinar a energia dos movimentos juvenis com ferramentas digitais e metodologias de antecipação nos permite redesenhar práticas e processos nas instituições, tornando-os mais inclusivos e conectados às demandas de mudança de nossos tempos para democratizar o futuro. Isso envolve a construção de capacidades que preparem as instituições públicas para estarem prontas para o futuro, ou seja, antecipar cenários, adaptar-se com agilidade e responder proativamente aos desafios emergentes. Implica também integrar mecanismos participativos que amplificem as vozes dos jovens, adotem novas formas de comunicação com as tecnologias a serviço do bem público.
Do evento ao movimento: rumo às instituições para o futuro – Quanto mais abertas, inclusivas e visionárias forem as instituições, maior será sua capacidade de construir confiança e liderar transformações com senso coletivo. Os exemplos na região são tão diversos quanto inspiradores:
- Em Honduras, a construção do Plano Local para Juventude, Paz e Segurança em San Pedro Sula, incorporando ferramentas participativas e governança antecipatória, representa um marco regional ao demonstrar o papel transformador da juventude na cocriação de soluções de desenvolvimento e paz nos territórios.
- No Peru, a iniciativa Tejiendo Ciudadanía e a plataforma Redpublica promovem o potencial da tecnologia para fortalecer a participação dos jovens, gerando diálogos para a construção de uma agenda rumo a um novo pacto social que contenha propostas de soluções e estratégias inovadoras diante dos principais desafios da governança democrática e do desenvolvimento sustentável do país.
- No Brasil, as oficinas sobre juventude e democracia, no âmbito da formulação do plano participativo local (PPA) no município de Osasco, envolveram jovens das escolas públicas do município em um processo de escuta e formulação de soluções, com a chave da governança antecipatória, para fortalecer a democracia e a confiança nas instituições em nível local.
- Na Colômbia, o projeto Juventude Transformadora, apoiado por PNUD e UNFPA, fortalece a participação dos jovens, reconhecendo seu papel como agentes de mudança na construção da paz, em territórios historicamente afetados pelo conflito armado.
Essas iniciativas demonstram que, para reforçar a democracia, é essencial reforçar as instituições de juventude e criar verdadeiros canais de participação. Não se trata de criar espaços simbólicos, mas de garantir que os jovens tenham impacto real nas decisões que os afetam, desde a concepção da política até a implementação e avaliação.
O futuro da América Latina e do Caribe é um horizonte em construção. O desafio para as instituições é monumental: passar da retórica à ação, transformando estruturas e processos que nos permitam passar da consulta simbólica à cocriação genuína – com, por e para os jovens.
[1] PNUD, 2024. Série de desafios. Caderno 2: Governança e Juventude na América Latina e no Caribe.