Estocolmo+50: Ação climática como um compromisso de gerações

27 de June de 2022

A Estocolmo +50 estava empenhada em trazer as preocupações ambientais para o centro da política, economia e relações internacionais. Daniel Calarco participou como representante da juventude em um painel sobre o impacto desigual das mudanças climáticas.

Foto: Daniel Calarco

As preparações para esse evento começaram bem antes de eu nascer! Há exatos 50 anos, em 1972, ocorria a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. A ocasião tornou, de forma inédita, a questão do meio ambiente global e urgente, e contou com a presença de 122 países. Naquela época, os avanços foram a Declaração de Estocolmo e o Plano de Ação para o Meio Ambiente Humano. Ainda, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente foi criado como consequência da conferência, no Quênia. Agora, já em junho de 2022, na mesma semana do Dia Mundial do Meio Ambiente, ocorreu a Estocolmo+50, com o compromisso de trazer à tona os debates ambientais como centrais à política, à economia e às relações internacionais. Em meio à década da ação, o encontro de líderes globais foi marcado por esperança, combinada com pressa, de gerações sem tempo a perder. 

E como pautado pela campanha, "We don’t have time’’ foi a palavra de ordem na Suécia! Desde a década de 70, as proporções e a urgência da agenda climática se tornaram muito mais alarmantes. Não podemos esperar até 2030 para conter a insurgência da tripla crise: a crise climática, a perda de natureza e biodiversidade e do excesso de poluição e resíduos sólidos globais que o mundo enfrenta.

E não podemos esquecer que esses desafios impactam, de maneira desproporcional, grupos e populações vulneráveis, especialmente populações do sul global e interseccionais. E que a construção de políticas sustentáveis e eficientes são intergeracionais e precisam de todas e todos envolvidos.

E essa foi uma das potências do encontro, que, mesmo sem ser deliberativo, colocou nas mesas e audiências jovens ativistas climáticos e oficiais, lideranças e atores com uma trajetória de compromisso que iniciaram o debate 50 anos atrás. Assim foi o painel de que eu participei, realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), responsável, junto com a Samsung, pelo Programa Generation17. A iniciativa tem o compromisso de promover os 17 Objetivos de desenvolvimento sustentável por meio da tecnologia. O aplicativo Samsung Global Goals já está instalado em mais de 100 milhões de smartphones Galaxy em todo o mundo e arrecadou mais de 1,5 milhão de dólares em doações para o PNUD.

Na Estocolmo +50, Daniel se encontrou com líderes internacionais, incluindo David R. Boyd, Relator Especial da ONU sobre Direitos Humanos e Meio Ambiente; Poonam Ghimire, membro do Conselho Consultivo de Alto Nível da ONU sobre Multilateralismo Eficaz; e Giovanna Kuele, pesquisadora do Instituto Igarapé.

Foto: Daniel Calarco

Nosso compromisso é democratizar a Agenda 2030! No aplicativo, qualquer pessoa, em várias línguas, pode aprender sobre os desafios e a interconectividade entre os ODS, encontrar recursos sobre as iniciativas da ONU e aplicar na prática seus aprendizados, conhecendo soluções fáceis e simples.

E o Generation17 fez parte do evento, pois compartilha o compromisso de enfrentar junto as mesmas urgências que a conferência nos traz! Precisamos enfrentar a crise tripla, mas baseados nos seguintes valores e princípios, que refletem as recomendações finais da conferência e a visão das juventudes na construção do nosso presente e futuro:

1. Nada sobre nós, sem nós!

Os mais impactados precisam fazer parte da solução, colocando o bem-estar humano no centro de um planeta saudável e próspero para todos, reconhecendo que isso é um pré-requisito para uma vida pacífica, coesa e próspera de sociedades.

Um exemplo positivo desse compromisso foi a potente voz de Txai Suruí, sendo ouvida em todo Stockholmsmässan, vocalizando a violência e perseguição sofridas pelos povos indígenas na região amazônica. A jovem expôs o avanço da mudança climática na Amazônia e a urgência de proteger quem protege a floresta. Enquanto Txai lutava na conferência, denunciando o avanço da agropecuária sobre a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau em Rondônia, seu povo continuava sofrendo ameaças e violações sem suporte das autoridades brasileiras.

2. Pessoas vivem em cidades e não em agendas globais!

Os governos locais e subnacionais são essenciais nesse processo. É dever de todas as esferas fortalecer a implementação nacional dos compromissos existentes para um planeta saudável, por meio da melhoria da legislação ambiental, orçamento, processos de planejamento e quadros, promovendo a formulação de políticas baseadas em evidências, inclusive por meio de colaboração com diferentes setores.

Compromissos como o Favela.LAB, do Observatório Internacional da Juventude, oferecem treinamento, financiamento e uma rede de contatos para jovens atuarem em suas favelas e periferias, garantindo que esforços globais em prol dos ODS sejam colocados em prática nas comunidades do Rio de Janeiro e Brasil.

3. Ação climática é um compromisso de gerações!

Reconhecer que a cooperação entre jovens, crianças, adultos e idosos é essencial na ação ambiental, destacando não apenas os desafios, mas também os progressos feitos, é um compromisso para fazer ainda mais! E isso deve ser feito criando canais de diálogo, construção de aprendizado e de incidência coletiva.

Todos os painéis contaram com essas trocas, garantindo que líderes jovens e até ex-ministros ou atuais representantes de governos e organizações internacionais conversassem de igual para igual!

Daniel está cercado por outros jovens líderes climáticos, da esquerda para a direita: Eduardo Cavaliere, ex-secretário de Meio Ambiente do Rio de Janeiro; Jayathma Wickramanayake, Enviada do Secretário-Geral da ONU para a Juventude; Txai Surui, ativista indígena da Amazônia; Gabriel Mantelli, representante da organização de direitos humanos Conectas; e Karina Penha, instrutora do Favela.LAB.

Foto: Daniel Calarco

A mensagem que fica possui dois lados. Por um, é preciso reconhecer que estamos sim enfrentando tempos com desafios muito maiores em relação ao meio ambiente que antes. Infelizmente, a contagem regressiva para a contenção de uma catástrofe ambiental a nível mundial nunca esteve tão apertada, e isso sem a menor sombra de dúvidas é um fator gerador de ansiedade para a juventude. Afinal de contas, é injusto que a conta desses obstáculos tenha chegado para nós. Isso custou vidas, sociedades e futuros! Mas chegou, e precisamos superar o sentimento que domina nossas mentes, que é a sensação de que não seremos capazes de consertar o estrago já feito. Porque é justamente nessas horas que é necessário lembrar que os seres humanos, em harmonia com a natureza, conseguem alcançar o que consideramos impossível.

São exatamente nos momentos de crise que a gente transforma o mundo. E hoje, mais do que nunca, não estamos sozinhos nessa luta. Nunca tivemos tantos recursos possíveis à nossa disposição para fazer com que nossas vozes cheguem a qualquer pessoa em qualquer lugar. Nunca fomos tantos conscientes da importância dessas pautas e do enfrentamento coletivo de nossos medos. E agora não será diferente. Mas será maior e mais potente, para que o futuro seja mais sustentável e, essencialmente, possível de existir.

E o mais importante: nunca fomos tantos jovens determinados a não perder mais tempo e mudar de uma vez por todas nossos hábitos, mentalidades e trabalhos em prol do planeta, para que aqueles que vierem depois de nós não precisem passar pelos receios que hoje estão em nossas cabeças. O encontro de Estocolmo termina abrindo caminho para a Rio+30, a conferência sobre o papel das cidades e do Sul Global na vanguarda mundial da luta pela justiça climática pautada bem no centro do furacão. E espero que isso seja feito partindo das três valiosas dicas da Suécia na construção dos próximos passos para o futuro que queremos e como seguiremos no presente.